Dos ídolos criados na base ao futebol envelhecido

Os longos 105 anos de história do CRB nos reservam episódios que são bonitos, trágicos, estúpidos e engraçados. A ironia do destino é comum no Galo, cresce ano após ano e continua evidente para os torcedores, mas não para quem faz a diretoria.
O futebol viveu seu amadorismo da forma mais romântica, com jogadores bordados em suas casas, vivendo seus grandes momentos e sempre tendo o mesmo escudo estampado perto do peito. Hoje, diferente de tempos atrás se ver o contrário. Será que o futebol perdeu tudo aquilo que lhe encantava?


Aqui, no estado em que se tem uma Rainha do Futebol, mas também tendo outros que chegam até a brilhar na Europa, é comum acontecer de um jogador ser desvalorizado, não ter o suporte necessário e ver fora do estado uma luz no fim do túnel, uma oportunidade que nunca teria por aqui. Mas será que é necessário? Como o CRB conseguia ter grandes ídolos com tão pouco no passado? Com aquele amadorismo todo, com aquela precariedade. É simples, o bolso hoje é o mais importante. Claro, há a questão do clube ficar bem financeiramente. Mas bem como? Um jogador de empresário chegando no clube será mais vantajoso do que um garoto da base jogando pelo seu clube do coração e querendo se valorizar? Não sei, vamos tentar descobrir.

Média de idade avançada

A atual média de idade do CRB beira os 28 anos. Poucos jogadores jovens no elenco. A base não é tão boa, dificilmente dão resultado pela baixa qualidade e também pela falta de calma e insistência da diretoria e comissão técnica.
Mas quando falo em contratar jovens jogadores, é apostar em peças que se destacam na base de grandes equipes e que estão encostadas em elencos caríssimos. Estes jogadores não chegariam tão badalados, e teriam a oportunidade de mostrar serviço para não só aqui, mas para o clube que está lhe emprestando. Um exemplo é Lima, que pertence ao Grêmio, foi emprestado ao Ceará, jogou muito e agora é aproveitado na equipe gaúcha.
Isso é fundamental, você não paga um alto salário pelo jogador e ele tem uma alta qualidade e quer mostrar serviço. 


Tem que contratar um jogador experiente, mas tendo o elenco uma opção de jogadores mais jovens que vão ajudar, que querem se destacar. Um jovem atacante, que seja ousado, que drible e faça a diferença. Mas também um jovem volante que esteja com vontade de brigar por todas as bolas, de também chegar no ataque como homem surpresa e fazer um gol ou dar uma assistência. Apostar nesses jogadores é um projeto complicado, mas financeiramente é mais agradável do que apostar em alguém que já não quer mais nada no futebol, só quer apenas ganhar salário e se divertir.
Deve haver a mesclagem sempre. No CRB hoje, apenas quatro jogadores contratados tem menos de 25 anos, e nenhum tem menos de 23 anos (idade olímpica). Apenas os jogadores da base, e estes nem são utilizados.

Ídolos que não se formam mais por aqui

Nos anos 70 o Galo tinha ídolos formados em casa que davam resultado. A média de idade era baixa, por sinal. Era comum se ver um jogador evoluir dentro do próprio clube, sendo torcedor e jogador do mesmo, e dando o resultado necessário. Joãozinho Paulista chegou no CRB do XV de Piracicaba com 19 anos, na primeira temporada foi artilheiro do estadual. Hoje é diferente, dificilmente um jogador da base do Galo se torna artilheiro, ou até mesmo um jogador jovem que venha pra cá consiga isso. Neto Baiano com 35 anos se tornou pra muitos um ídolo do clube, isso mesmo, 35 anos.


Não vemos mais grandes jogadores evoluírem por aqui. Luiz Gustavo não era tão bom no CRB, era criticado e foi parar no Hoffenheim, o resto já sabemos, mas poderia ter se tornado um ídolo, o problema é que o clube hoje não consegue mais fazer isso. Não consegue mais trazer jovens jogadores que surpreendem em uma partida. Opta por contratar jogadores já conhecidos e com uma reputação horrível, que é o caso do Ruan e Manoel. Mas há jogadores jovens que são destaques na base de grandes clubes e serviriam aqui. Por exemplo, Galdezani com 23 anos foi surpreendente aqui. Olívio chegou com 26, Elsinho com 22, Luidy com 19. Bom, não dá pra esperar sempre que um jogador novo faça uma temporada incrível do começo ao fim, mas apostar nessas peças fortalece o elenco, não é só rejuvenescer, é trazer uma juventude que quer se valorizar, quer mostrar serviço. Diferente de jogadores medalhões de 35 anos que vem passar férias, fazer corpo mole, derrubador treinador e não correr pra ninguém em campo.
Hoje em dia não acontece mais aquele comentário clássico: "Vai subir um garoto pro profissional que joga muito"

Projetos que não incluem jovens?

Estamos reféns a todo momento de um empresário tirar um jogador de destaque do elenco e negociá-lo para outra equipe. O CRB dificilmente se dá bem em negociações, e é muito mais fácil lucrar com quem está fora do que com quem está dentro e prestes a sair.
Porém, percebemos que nos últimos anos o Galo vem fazendo elencos com jogadores já consagrados esperando que estes, após "usufruir" de toda a estrutura do clube, deem um retorno de imediato e façam milagres.
Mas como sabemos, nunca acontece o que esperamos. Jogadores que estão encostados em equipes maiores, como Internacional, Corinthians e outros, sempre passam por treinamentos diferenciados, adaptações táticas, se desenvolvem melhor, etc. Porém, como estas equipes grandes contratam vários jogadores que tem futebol a nível de seleção, estes jogadores de base perdem espaço nos clubes. E assim podemos ver eles sendo emprestados para equipes de Série A ou B e se destacando, como por exemplo Artur no Londrina em 2017 e outros.


Tem que saber contratar, não adianta o cara ser só jovem, tem que observar se ele joga bem, se ele rendia em sua equipe. Diferente do que aconteceu esse ano, contratando Manoel que era odiado no Náutico, Ruan que era odiado no Vila Nova e Pedrinho que era reserva do Bruno Nascimento no Ituano. Se for pra contratar um jogador reserva de um da nossa base em um time pequeno da Série D, é melhor trazer o jogador da base de volta.
O alto investimento do CRB em jogadores já consagrados atrapalha pelo fato de não haver o rendimento esperado e a rescisão ser mais cara que o salário. Um problema também em contratar jogadores jovens por empréstimo e estes serem chamados de volta para suas equipes. Por isso deve haver sempre uma mesclagem na equipe, quando contrata um jogador experiente, ter sempre o jogador mais jovem, e se o jovem for embora, ter esse experiente para suprir sua ausência, ou até mesmo ter mais opções na função.
Marcos Barbosa pode buscar contratar jogadores que estejam encostados em outras equipes, até pelo fato delas querem ver estes jogadores tendo mais tempo de jogo, e de se destacarem para voltarem e serem aproveitados no time principal. Por isso o CRB precisa não só reforçar sua base, mas buscar jogadores jovens para dar aquela velocidade que faltava, aquela vontade de crescer, de evoluir.

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